Hoje, durante uma aula incrível sobre os Aspectos Fisiológicos e Nutricionais do Envelhecimento, nós, enquanto ouvintes da palestra tínhamos que dar direcionamentos diversos a um estudo de caso. O caso era fictício, a instituição de saúde era fictícia, mas os direcionamentos deveriam ser como se fosse um caso real naquelas condições e com aquelas opções de encaminhamentos.

Durante a discussão no grupo eu comentei que meus pacientes não ficam sem comer nada. Eu não restrinjo nada, de ninguém. Apenas direciono o que é mais adequado à condição do indivíduo e, se ele tiver alguma vontade, não deve ficar sem consumir o alimento que deseja, apenas deve observar as quantidades, o tempo que leva para consumir, encaixar nos horários próximos ao das refeições padrão... A cara das meninas do grupo foi de
surpresa. Uma das que lá estavam, fonoaudióloga, me olhou como se eu fosse um E.T., afinal, nutricionistas "cortam tudo", né?
E aí fui explicando, mostrando meu ponto de vista, explicando os porquês da minha conduta. E foi muito legal. No final, elas concordaram comigo.
Não adianta a gente restringir, retirar da dieta habitual de um indivíduo um determinado alimento que para ele é fonte de prazer e que promove bem-estar. O ideal é orientá-lo para que quando ocorrer o consumo, este seja moderado e da maneira mais adequada, sempre pensando nas patologias que o indivíduo apresenta (trabalho com idosos e, em sua maioria, eles apresentam mais de um doença crônica) e, obviamente, nas suas condições socioeconômicas - o que MUITA nutricionista por aí parece esquecer. E passar a bola para as mãos do paciente, alegando que ele não "adere ao tratamento porque não quer" ou porque "não tem força de vontade" ou porque não tem "vergonha na cara".
Gente, já ouvi tanto isso de nutricionistas... De médicos prefiro não comentar.
De quando eu era adolescente, há 18 anos, e, sempre acima do peso, fui encaminhada pela médica hebiatra, até há alguns meses atrás, passando pela nutri da equipe da cirurgia bariátrica, que queria me tirar sucos de frutas porque "é calórico".

Não dá para restringir, esconder, fingir que um determinado alimento, que a pessoa adora e que lhe traz tanto bem-estar, não existe. Removê-lo da dieta.
Quando a pessoa for consumir esse alimento específico, vai consum
i-lo em grande quantidade e muito rápido.
E isso pode levar à sensação de culpa. E a culpa pode levar a caminhos delicados, inclusive gerando transtornos de ordem alimentar.
A sociedade impõe, e muito, essa restrição e tenta, a todo momento, vilanizar um alimento ou grupo alimentar.
São dietas restritivas, evitativas, jejuns, remoção de um ou outro grupo alimentar no dia a dia... Gente...
Uma alimentação balanceada, com TODOS os grupos alimentares, com os alimentos que mais dão prazer à pessoa incluídos, não proibidos, atividade física regular (e eu não estou falando de academia, viu?) e atividades sociais que promovam o bem-estar, vão garantir que a pessoa esteja bem em todos os aspectos importantes da vida: físico, emocional e social.
Estar acima ou abaixo do peso, considerado adequado conforme esse ou aquele parâmetro, não significa que a pessoa esteja doente, e também não significa que a pessoa esteja saudável.

O que precisamos pensar e avaliar é como nós, nutricionistas, podemos agir com esse indivíduo, sem terrorismo, ou
nutricionismo (adorei esse termo!), sem imposições, sem regras absurdas impossíveis de serem seguidas, sem dietas da moda que removam um ou outro alimento, que não estimulem jejuns para perder peso...
Precisamos atentar para as tantas variáveis que este indivíduo nos apresenta e, dentro delas e conforme a necessidade individual desta pessoa, orientar da melhor maneira possível. E escutar, de verdade, o relato daqueles que chegam e, no discurso, mostram indícios de dificuldades na relação com os alimentos, indícios de possíveis transtornos ou alguma outra desordem.
Precisamos agir com humanidade, mesmo sendo, principalmente, da área da saúde.