segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Comida do Coração

Hoje começamos nosso grupo terapêutico no instituto onde faço aprimoramento profissional. Meu grupo de intervenção do TCC - Grupo Corpo e Saúde.

20 mulheres em um sala falando sobre peso, corpo, saúde, comida, limites, gostos, vontades... Eu como gestora do grupo, a nutricionista, a mais nova da sala. As meninas todas de 60 anos de idade para cima. E foi uma delícia e super motivador.

Falamos sobre diversos aspectos, do modo como nos enxergamos, ou de como o outro nos percebe, da história de vida, cheia de lutas, perdas e vitórias de cada uma, inclusive sobre a comida ou as comidas de cada dia, de cada momento. Das angústias, tristezas ou alegrias e tantos outros sentimentos que desviamos para aquilo que comemos, muitas vezes sem perceber.


E aí, depois de muito conversarmos, eu perguntei a cada uma delas:

Qual é a sua comida do coração?

E as respostas surgiram, automáticas, como se cada uma delas esperasse por essa pergunta. E as respostas foram incríveis, assim como cada gargalhada que surgia do amor de uma ou de outra, do mesmo modo, as trocas de ideias que afloraram neste momento.

Depois de toda a roda, foi a minha vez. Elas também queriam saber.



BRIGADEIRO! 

Quente, na colher, direto da panela. Ou enrolado também. Mas o meu conforto emocional, vem com ele quente, recém saído do fogo. Assim como de outras pessoas, esse conforto surge com outras coisas. Uma delas citou os salgadinhos - coxinha e similares. Nem precisa de arroz e feijão se tiver salgadinhos. A outra, linguiça assada com arroz branco. Uma outra arroz branco com frango. Outra, ainda, uma pizza...

Cada uma sabe da própria vontade, e do quanto se limita pela necessidade de controlar as doenças que já estão presentes, ou que estão batendo, ferozmente, na porta de cada uma. Cada um sabe a dor e o amor de ser quem é. 

Conhecer os sentimentos, olhar para dentro de si, se perceber... Isso faz diferença. 

Permitir que a comida faça parte da vida, como deve fazer, sem ser um substituto para as emoções, é o foco das nossas mudanças alimentares, da nossa mudança de comportamento alimentar. E essas mudanças podem ser muito benéficas, muito positivas, e deliciosas. Quando conseguirmos engolir a raiva, a dor, a tristeza, a ansiedade, o medo, a felicidade, a paixão não correspondida, e não nos virarmos para a comida a cada sentimento guardado, escondido, no fundo do peito - ou do estômago - a nossa relação com a comida vai melhorar. A nossa relação com o nosso corpo vai melhorar. E o peso excessivo vai sumir, naturalmente, sem esforço. Seremos melhores conosco. E esse é um bem que ninguém pode tirar de ninguém.

E para você, querido leitor, qual é a sua comida do coração?

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Ser gordo... Ou não ser...

Ser gordo... O que é ser gordo? E... O que é ser magro?


Há alguns anos a cobrança com relação ao peso corporal tem se modificado, se intensificado e isso tem ocorrido principalmente relacionado ao corpo da mulher. Parece que todo mundo tem o direito e a liberdade de cobrar da mulher como ela deve ser, parecer, se vestir, calçar, medir... Mas eu fico pensando até que ponto essa cobrança é possível, é válida... 

Outra coisa estranha... Por que homens também não recebem essa mesma descarga de cobranças, desde pequenininhos, como acontece com as meninas?

Por que as meninas tem que ser sempre comportadas, obedientes, bem arrumadas, magras e bonitas? Por que isso é coisa de mulher??? Quem foi que separou as coisas dessa forma?

A sociedade exige que a mulher seja e esteja sempre bonita, em forma, bem arrumada, obediente... Subserviente...? 

Mas do homem exige coisas bem diferentes. 
Para a sociedade não importa se o homem é gordo ou magro. Se ele for magro, tudo certo. Se for gordo tudo certo também. Ele vira o cara legal e divertido. Independentemente do seu peso corporal.


A mulher é a feia, desleixada, relaxada, largada, com pouca força de vontade e amor próprio. Porque para muitas pessoas não é possível que a mulher se ame sendo gorda. Que se ache bonita e gostosa sendo gorda.

Mas, afinal, o que determina esses padrões? Qual é a lógica bizarra que a mídia e a sociedade utilizam para determinar esses padrões?


Cada um pode ser como quiser e lhe convier ser. 

Ah, mas você não pensa na saúde?

Tanto penso que em momento algum eu estimulo o fato de a pessoa querer ficar doente. E meios "alternativos" de eliminação de peso são meios doentios.

O fato de estar acima do peso ou ser gorda não obriga que a pessoa seja ou esteja doente.

Há diversas pessoas gordas que têm seus exames bioquímicos impecáveis. E há tantos outros magros que têm  alterações severas de colesterol, triglicérides, glicemia... Isso não é, e não deveria ser, obrigatoriamente, associado à obesidade. Precisamos rever alguns conceitos...

Obviamente, o acúmulo de gordura pode levar ao aumento de riscos destas doenças e é importante ter cuidado nesse sentido, mas bater o olho na pessoa e já determinar que todas as doenças do mundo se recaem sobre ela por conta, apenas, da obesidade? Não. Isso não.

Padrões corporais E sociais mudam com o passar do tempo.

No período Renascentista, o bonito eram as formas, as curvas... A mulher curvilínea era associada à fertilidade. Pessoas gordas eram aquelas que tinham posses, riqueza... Com o passar dos anos, isso mudou e passamos a uma hipervalorização da magreza. Muitas vezes a todo custo. E isso não envolve estar saudável.

Emagrecer por causa de doença não é nem um pouco benéfico - bem ao contrário disso, aliás. Do mesmo jeito que ganhar peso por conta de reações a medicamentos também é uma coisa péssima. Mas são poucos os que compreendem estes detalhes.

Para muitos, emagrecer é o objetivo. Ponto.

Os fins justificam os meios. 


Desenvolver transtornos alimentares e ter uma relação ruim com a comida, algo transcendental ao ser humano, com o único objetivo de emagrecer, é péssimo. E o fim nunca, neste caso, justificará o meio.

Melhorar a sua relação com a comida, com seu corpo, sua visão de si e a percepção das suas emoções, associadas ou não à comida, deveria ser o caminho a ser buscado e a meta a ser atingida. 


Peso corporal é só uma referência. Uma. Referência. E valores de referência se modificam ao longo do tempo. 

O seu amor próprio e autorrespeito não. 



Ou pelo menos não deveriam.